É possível adaptar mitos gregos para um público infantil? Se você acha que isso não é possível, recomendo a leitura da coleção Divinas Aventuras: histórias da mitologia grega e Divinas Desventuras: outras histórias da mitologia grega. Ambos os livros são da editora Companhia das Letras, escritos por Heloisa Prieto.
Há vários aspectos que impressionam no livro. Em primeiro lugar, a capacidade de síntese da autora. Em pouquíssimas páginas, ela consegue contar um mito, sem perder a sua mensagem ou moral. Em segundo, a ilustração feita por Maria Eugênia. A qualidade e beleza dos desenhos tornam a leitura mais agradável para todos os leitores, de todas as faixas etárias.
O prefácio do primeiro livro foi escrito pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz – uma das historiadoras mais respeitadas no Brasil. Reflita sobre a tese levantada por Lilia: “Mitos são bons para pensar. Iluminam nossa história pessoal e coletiva, nossos medos e desejos, e conversam sobre eles por meio de imagens e de alegorias. Os mitos gregos, ao falarem de si próprios, falam muito de nós mesmos”.
Não há motivos para todos concordarem com a citação acima, mas é difícil resistir ao que foi escrito. A leitura dos mitos nos faz pensar sobre a nossa própria condição humana: medos, desejos, etc. A narrativa do mito sempre esconde alguma coisa. Algo que nunca é dito de forma explícita ou literal. Ele nos faz pensar, pois é uma alegoria. O que é uma alegoria? Segundo o Aurélio: ficção que representa uma coisa para dar ideia de outra.
Caso o professor não queria comprar os dois livros, fica a dica: o segundo livro tem mitos mais interessantes do que o primeiro. Em especial, os mitos: Ícaro, Prometeu, Cassandra e Sísifo. Dos quatro, o meu preferido é Prometeu. Nem tanto pela narração em si, mas pela mensagem que ele passa: a separação do homem da natureza – o nascimento da razão humana, que nada mais é do que o nascimento da Filosofia.